sábado, outubro 06, 2012

A Língua Portuguesa, a Língua Brasileira...e os Franceses.

O Acordo Ortográfico. Esse instrumento maravilha que vinha "salvar" a Língua Portuguesa de ser atirada para o baú de recordações da História. Que ia enviar a Língua Portuguesa para novos patamares estratosféricos de prestígio e divulgação internacional, qual Discovery da Lusofonia.

Pois é.  O problema é que o Discovery da Lusofonia acabou por se revelar um Challenger, explodindo a caminho do espaço e levando com ele a Língua Portuguesa.
Cuidam que esteja a ser demasiado dramático? Talvez. Ou talvez não. O certo é que, desde que se começou a vender a ideia de que "o Acordo está em vigor" (vil mentira que já várias vezes denunciámos) o que se tem visto é um desaparecimento súbito do Português Europeu na cena internacional.
Começou pelos sites (utilizo a expressão "site" propositadamente, pois considero a sua tradução para "sítio" em Portugal uma escolha muito infeliz, e o termo "página" demasiado redutor.) . Variados sites já não possuem uma opção de "Português (Portugal)", vindo agora, única e exclusivamente com o nome "Português" seguido de uma bandeira do Brasil. E as que mantém a bandeira de Portugal...bem, podiam invertê-la, como na CML. É que apesar de a bandeira estar lá, o site foi todo convertido em Português do Brasil.
Depois foram os sistemas operativos e softwares. Tudo convertido para a variante Brasileira. Afinal "eles são mais" e a língua foi "unificada".
E eis que agora chega o último prego no caixão da Língua Portuguesa. Dicionários e guias de conversação de "Brasileiro".
Sim.
Os nossos amigos franceses, que já haviam noticiado que "Em Portugal se passou a escrever em Brasileiro", decidiram dar um novo passo e afirmar a sua crença na inexistência de um "Português do Brasil". Para os franceses, tal como para muitos Portugueses e muitos Brasileiros, a Língua que hoje se fala e escreve no Brasil é, de pleno direito, o "Brasileiro".
E como tal, em França, agora vendem-se - naquela loja que também é muito conhecida em Portugal por ter o mesmo nome da antiga Fábrica Nacional de Ar-Condicionado e que cá já foi a correr adoptar o Acordês - dicionários de "Francês-Brasileiro / Brasileiro-Francês".
Ora, um dicionário é um compêndio de palavras, termos e vocábulos de uma Língua. Um dicionário ainda é unicamente fornecido em suporte escrito.
Então mas o Acordo não "unificava" a Língua Portuguesa? Porque raio precisarão os Franceses de um "dicionário de Brasileiro"? Afinal, um único dicionário de "Português Unificado" seria suficiente, não? Ah. Espera. Talvez não. Se calhar é porque, como também já dissemos, aquilo que separa o Português de Portugal e do Brasil não é a existência de duas normas ortográficas. É a existência de duas normas fonéticas, lexicais e terminológicas. O que nos separa do Brasil é a forma como formulamos as frases, as expressões que utilizamos e o significado de palavras que, ou não existem nos dois lados do Atlântico, ou existem com significados completamente diferentes.
Poder-se-ia argumentar "Ah, mas isso é pensado para quem quer ir ao Brasil". E?
Não deixa de ser o reconhecimento de que, para os Franceses, Brasileiro e Português não são a mesma coisa. Ou agora serão?
É que a julgar por este guia de conversação, a resposta é "são". Senão vejam como é anunciado o mesmo:

"Voilà une "petite" collection fort pratique et facile à glisser dans votre poche pour passer quelques jours chez nos amis européens".

Ora bem, um guia de conversação de "Português" sem dúvida que ajudaria um francês a "passar uns dias com os seus amigos europeus". Um guia de conversação de "Brasileiro" não os leva muito longe em Portugal. Porque raio vendem então eles um guia de conversação de "Brasileiro" para quem quer passar férias em Portugal? Ora, porque, com a "unificação" da Língua, aquilo que os Franceses viram é que em Portugal se começou a escrever em Brasileiro. E se cá se escreve em Brasileiro, com a breca, então também se deve falar Brasileiro, certamente!
Pois. Não.

Mas fica devidamente anotada a opinião dos Franceses sobre a Língua que se passou a falar em Portugal e sobre a questão da autonomização ou não do "Brasileiro". Agora falta que expliquem aos mentecaptos que fizeram o "Acordo" que, de facto, não é possível "unir" o que não é unificável. E que o resultado da sua "unificação" foi a explosão da Língua Portuguesa. Qual Challenger.

2 comentários:

Nuno Teixeira disse...

Muito acertado.

Juliana Cris disse...

Muito interessante. Recomendo esse artigo http://brasiliano.wordpress.com/2014/01/20/portugues-ou-brasileiro-nao-eis-a-questao/