O Fenómeno Jet-Set
Se há algo que em Portugal tem ganho cada vez mais relevância é aparecer na televisão. O motivo não interessa desde que se consiga cinco minutos de fama. Mas afinal o que é que explica este desejo patológico de aparecer, de ser conhecido, que tem vindo a tomar conta dos portugueses?
É esta a pergunta à qual tentarei responder dentro das minhas capacidades. Não sou sociólogo nem psicólogo e como tal limitar-me-ei a dissertar enquanto estudioso da História e do Direito.
Ora, com a ascensão da televisão, tornou-se claro que uma nova classe estava também a nascer: a classe das "figuras televisivas". Estas pessoas com excepção dos actores (e refiro-me a actores a sério não a essa nova praga de meninos- modelos que aparecem porque têm dois dedos de cara, mas que de actores nada têm) e os jornalistas sobre os quais não farei agora nenhum tipo de consideração, são pessoas que não fazem nada das suas vidas. São eles o chamado "Jet-Set", ou seja, um grupo de senhoras e (menos frequentemente mas também) senhores, que vivem à custa precisamente de aparecer. Mas não aparecem porque são culturalmente interessantes...limitam-se a aparecer e a dizer duas ou três frases feitas. Alguns destes julgam que escrevem livros e como tal auto-intitulam-se escritores, mas julgam somente serem-no porque aquilo que escrevem está publicado em forma de livro. Dificilmente se pode considerar aquilo literatura. Outros aparecem para comentar as vidas alheias, outros fazem da sua própria vida um comentário e outros que, não satisfeitos com a
"notoriedade" (aqui no sentido de serem notados, não como elogio) alcançada, prestam-se às mais degradantes figuras.
São criaturas curiosas as pessoas que compõem o tal "Jet-Set". Vivem e alimentam-se de festas, cocktails e revistas. Curiosamente o povo português parece querer seguir-lhes as pegadas. Vêem neles ídolos, figuras queridas, e incentivam os mais jovens a serem como eles. O dito "Jet-Set" impõe uma autêntica ditadura estética e de hábitos que deformam qualquer ser humano digno e respeitável. É a ditadura das roupas, do cabelo, do peso, em suma, de tudo o que há de fútil.
Porque quererá então o Português seguir-lhes as pegadas?
Vislumbro variados motivos. Uns querem também ser conhecidos, outros pensam enriquecer à custa da sua imagem e outros querem mostrar ao Mundo que existem, mesmo que o Mundo não lhes ligue nenhuma. Esta última atitude será, talvez, um caso clínico.
A febre das novelas juvenis, dos reality shows, dos concursos, invadiu Portugal ao ponto dos jovens quererem viver para a televisão. Fazer televisão deixou de ser uma arte complicada e passou a ser um desfile de figuras a roçar o patético em busca de um copy/paste da sociedade britânica mas onde falta um dos pilares básicos : um elevado nível educacional.
Salientaria ainda outro aspecto curioso: as tais figuras do "Jet-Set" gostam de se fazer passar por pessoas muito vividas e sabedoras de tudo. Pois eu creio que se formos buscar a uma aldeia qualquer uma dona Maria, esta saberá mais sobre as vicissitudes da vida do que a tal "pessoa importante do Jet-Set". E porquê?
Porque a dona Maria não foi criada em berço de ouro nem é viúva de um industrial rico. Porque a dona Maria teve de trabalhar toda uma vida para colocar o pão na mesa dos seus filhos e lhes dar o mínimo de estudos para que estes possam pelo menos ter uma oportunidade que a dona Maria não teve.
É compreensível, no estado financeiro em que o País se encontra, que os portugueses almejem ser como a figura do "Jet-Set" e não como a dona Maria. Mas é muito mais digno ser como a dona Maria e trabalhar honestamente e com humildade e esperar a recompensa pelo esforço, em vez de ser um parasita social que vive somente daquilo que aparenta ser.
Porque, para mim, a dona Maria merece muito mais consideração e louvor...e é pena que não seja uma opinião partilhada pela maioria.
Se há algo que em Portugal tem ganho cada vez mais relevância é aparecer na televisão. O motivo não interessa desde que se consiga cinco minutos de fama. Mas afinal o que é que explica este desejo patológico de aparecer, de ser conhecido, que tem vindo a tomar conta dos portugueses?
É esta a pergunta à qual tentarei responder dentro das minhas capacidades. Não sou sociólogo nem psicólogo e como tal limitar-me-ei a dissertar enquanto estudioso da História e do Direito.
Ora, com a ascensão da televisão, tornou-se claro que uma nova classe estava também a nascer: a classe das "figuras televisivas". Estas pessoas com excepção dos actores (e refiro-me a actores a sério não a essa nova praga de meninos- modelos que aparecem porque têm dois dedos de cara, mas que de actores nada têm) e os jornalistas sobre os quais não farei agora nenhum tipo de consideração, são pessoas que não fazem nada das suas vidas. São eles o chamado "Jet-Set", ou seja, um grupo de senhoras e (menos frequentemente mas também) senhores, que vivem à custa precisamente de aparecer. Mas não aparecem porque são culturalmente interessantes...limitam-se a aparecer e a dizer duas ou três frases feitas. Alguns destes julgam que escrevem livros e como tal auto-intitulam-se escritores, mas julgam somente serem-no porque aquilo que escrevem está publicado em forma de livro. Dificilmente se pode considerar aquilo literatura. Outros aparecem para comentar as vidas alheias, outros fazem da sua própria vida um comentário e outros que, não satisfeitos com a
"notoriedade" (aqui no sentido de serem notados, não como elogio) alcançada, prestam-se às mais degradantes figuras.
São criaturas curiosas as pessoas que compõem o tal "Jet-Set". Vivem e alimentam-se de festas, cocktails e revistas. Curiosamente o povo português parece querer seguir-lhes as pegadas. Vêem neles ídolos, figuras queridas, e incentivam os mais jovens a serem como eles. O dito "Jet-Set" impõe uma autêntica ditadura estética e de hábitos que deformam qualquer ser humano digno e respeitável. É a ditadura das roupas, do cabelo, do peso, em suma, de tudo o que há de fútil.
Porque quererá então o Português seguir-lhes as pegadas?
Vislumbro variados motivos. Uns querem também ser conhecidos, outros pensam enriquecer à custa da sua imagem e outros querem mostrar ao Mundo que existem, mesmo que o Mundo não lhes ligue nenhuma. Esta última atitude será, talvez, um caso clínico.
A febre das novelas juvenis, dos reality shows, dos concursos, invadiu Portugal ao ponto dos jovens quererem viver para a televisão. Fazer televisão deixou de ser uma arte complicada e passou a ser um desfile de figuras a roçar o patético em busca de um copy/paste da sociedade britânica mas onde falta um dos pilares básicos : um elevado nível educacional.
Salientaria ainda outro aspecto curioso: as tais figuras do "Jet-Set" gostam de se fazer passar por pessoas muito vividas e sabedoras de tudo. Pois eu creio que se formos buscar a uma aldeia qualquer uma dona Maria, esta saberá mais sobre as vicissitudes da vida do que a tal "pessoa importante do Jet-Set". E porquê?
Porque a dona Maria não foi criada em berço de ouro nem é viúva de um industrial rico. Porque a dona Maria teve de trabalhar toda uma vida para colocar o pão na mesa dos seus filhos e lhes dar o mínimo de estudos para que estes possam pelo menos ter uma oportunidade que a dona Maria não teve.
É compreensível, no estado financeiro em que o País se encontra, que os portugueses almejem ser como a figura do "Jet-Set" e não como a dona Maria. Mas é muito mais digno ser como a dona Maria e trabalhar honestamente e com humildade e esperar a recompensa pelo esforço, em vez de ser um parasita social que vive somente daquilo que aparenta ser.
Porque, para mim, a dona Maria merece muito mais consideração e louvor...e é pena que não seja uma opinião partilhada pela maioria.
David Baptista Silva
Lisboa, 21 de Outubro de 2006