sábado, outubro 06, 2012

A Língua Portuguesa, a Língua Brasileira...e os Franceses.

O Acordo Ortográfico. Esse instrumento maravilha que vinha "salvar" a Língua Portuguesa de ser atirada para o baú de recordações da História. Que ia enviar a Língua Portuguesa para novos patamares estratosféricos de prestígio e divulgação internacional, qual Discovery da Lusofonia.

Pois é.  O problema é que o Discovery da Lusofonia acabou por se revelar um Challenger, explodindo a caminho do espaço e levando com ele a Língua Portuguesa.
Cuidam que esteja a ser demasiado dramático? Talvez. Ou talvez não. O certo é que, desde que se começou a vender a ideia de que "o Acordo está em vigor" (vil mentira que já várias vezes denunciámos) o que se tem visto é um desaparecimento súbito do Português Europeu na cena internacional.
Começou pelos sites (utilizo a expressão "site" propositadamente, pois considero a sua tradução para "sítio" em Portugal uma escolha muito infeliz, e o termo "página" demasiado redutor.) . Variados sites já não possuem uma opção de "Português (Portugal)", vindo agora, única e exclusivamente com o nome "Português" seguido de uma bandeira do Brasil. E as que mantém a bandeira de Portugal...bem, podiam invertê-la, como na CML. É que apesar de a bandeira estar lá, o site foi todo convertido em Português do Brasil.
Depois foram os sistemas operativos e softwares. Tudo convertido para a variante Brasileira. Afinal "eles são mais" e a língua foi "unificada".
E eis que agora chega o último prego no caixão da Língua Portuguesa. Dicionários e guias de conversação de "Brasileiro".
Sim.
Os nossos amigos franceses, que já haviam noticiado que "Em Portugal se passou a escrever em Brasileiro", decidiram dar um novo passo e afirmar a sua crença na inexistência de um "Português do Brasil". Para os franceses, tal como para muitos Portugueses e muitos Brasileiros, a Língua que hoje se fala e escreve no Brasil é, de pleno direito, o "Brasileiro".
E como tal, em França, agora vendem-se - naquela loja que também é muito conhecida em Portugal por ter o mesmo nome da antiga Fábrica Nacional de Ar-Condicionado e que cá já foi a correr adoptar o Acordês - dicionários de "Francês-Brasileiro / Brasileiro-Francês".
Ora, um dicionário é um compêndio de palavras, termos e vocábulos de uma Língua. Um dicionário ainda é unicamente fornecido em suporte escrito.
Então mas o Acordo não "unificava" a Língua Portuguesa? Porque raio precisarão os Franceses de um "dicionário de Brasileiro"? Afinal, um único dicionário de "Português Unificado" seria suficiente, não? Ah. Espera. Talvez não. Se calhar é porque, como também já dissemos, aquilo que separa o Português de Portugal e do Brasil não é a existência de duas normas ortográficas. É a existência de duas normas fonéticas, lexicais e terminológicas. O que nos separa do Brasil é a forma como formulamos as frases, as expressões que utilizamos e o significado de palavras que, ou não existem nos dois lados do Atlântico, ou existem com significados completamente diferentes.
Poder-se-ia argumentar "Ah, mas isso é pensado para quem quer ir ao Brasil". E?
Não deixa de ser o reconhecimento de que, para os Franceses, Brasileiro e Português não são a mesma coisa. Ou agora serão?
É que a julgar por este guia de conversação, a resposta é "são". Senão vejam como é anunciado o mesmo:

"Voilà une "petite" collection fort pratique et facile à glisser dans votre poche pour passer quelques jours chez nos amis européens".

Ora bem, um guia de conversação de "Português" sem dúvida que ajudaria um francês a "passar uns dias com os seus amigos europeus". Um guia de conversação de "Brasileiro" não os leva muito longe em Portugal. Porque raio vendem então eles um guia de conversação de "Brasileiro" para quem quer passar férias em Portugal? Ora, porque, com a "unificação" da Língua, aquilo que os Franceses viram é que em Portugal se começou a escrever em Brasileiro. E se cá se escreve em Brasileiro, com a breca, então também se deve falar Brasileiro, certamente!
Pois. Não.

Mas fica devidamente anotada a opinião dos Franceses sobre a Língua que se passou a falar em Portugal e sobre a questão da autonomização ou não do "Brasileiro". Agora falta que expliquem aos mentecaptos que fizeram o "Acordo" que, de facto, não é possível "unir" o que não é unificável. E que o resultado da sua "unificação" foi a explosão da Língua Portuguesa. Qual Challenger.

sexta-feira, setembro 14, 2012

Toodle-oo, Portuguese


Após ler este texto de Nuno Ferreira sobre o que ele tem feito para contrariar o Aborto Ortográfico, também eu decidi fazer uma reflexão sobre o impacto que a dita aberração teve na minha vida enquanto Português.
E a conclusão a que cheguei é que, se o monstro não for suspenso e depois revogado (para contribuir para isso, assinem a ILC) a atitude que tomarei será a de, pura e simplesmente, abandonar o "Português".

Senão vejamos:

- No que toca à televisão, só vejo um pouco do telejornal à hora de jantar. E por "vejo" leia-se "ouço", porque na verdade não consigo ver aqueles rodapés cheios de erros. Prefiro olhar para a comida. De resto a programação dos quatro canais é tão mas tão má que tanto se me dá que fechem a RTP ou não. Por mim podiam até fechar os quatro canais que não lhes sentiria a falta.

- Filmes. Bom, ao cinema não vou. Mas já não ia antes da Abortização das legendas porque me recuso a pagar 7€ para ver um filme quando depois o Blu-Ray me custa 8€-10€.

- Blu-Rays e DVDs não os compro em Portugal. Só um maluco (ou pessoas pouco conhecedoras do Mundo online) é que compram esses produtos em Portugal. Os meus vêm todos do Reino Unido onde custam, no máximo 15€ (E isto é só à data de lançamento, porque 1 a 2 meses depois baixam de preço). Longe, portanto, dos 20€ a 30€ que custam em Portugal. As legendas não preciso delas porque, graças a Deus, sei falar e compreendo o Inglês.

- Jornais, não leio. Ou melhor, não leio os jornais físicos. Hoje em dia, quem tem Facebook não precisa de comprar jornais, uma vez que todos os jornais possuem páginas na referida Rede Social onde vão colocando as notícias ao longo do dia. Para as ler em maior profundidade os jornais têm páginas online. Dispenso, portanto, jornais em papel.
De qualquer das formas nenhum dos jornais que leio - Público e Diário Económico - aderiu ao Aborto Ortográfico. O Jornal Público, aliás, tomou uma posição corajosa de oposição frontal a essa monstruosidade parida por um Governo de arrivistas e aprovado por deputados analfabetos (sim, porque só os analfabetos assinam de cruz).

- Livros eram a única coisa que comprava em Portugal. Infelizmente as Editoras de que era cliente foram todas a correr Abortizar livros. Umas por interesse económico descarado (caso da Presença e da Bertrand que, após a falência, foi comprada pela Porto Editora, grupo que tem grande interesse no AO para ganhar dinheiro a vender novos dicionários e livros escolares) outras por carneirismo e nojenta cobardia dos seus responsáveis (caso da Editora Saída de Emergência, que teve das atitudes mais repugnantes que vi). Salvam-se, em Portugal, as Edições Europa-América, a Gradiva, e outras duas ou três que não foram na cantiga e preferiram respeitar os seus leitores.

Ora, face a isto tudo, eu, que sempre gostei de ler, tive de procurar alternativa. E esta veio, novamente, do Reino Unido.
O facto é que, após o inicio da Abortização de livros em Portugal, contam-se pelos dedos da minha mão direita o número de livros que comprei em Português (e refiro-me a Português, não a Acordês). Todos os outros livros passei a comprá-los em Inglês. Mesmo quando se trata de colecções que comecei em Português (como os livros da Guerra dos Tronos, a Saga Sangue Fresco, o Ciclo Inheritance ou a Trilogia dos Jogos da Fome).

E sabem que mais? Só poupei dinheiro com isso. Sim, é que os livros em Inglês, mesmo com capa dura (que são os que prefiro e compro) são mais baratos que as respectivas edições em Português. Aliás, por exemplo, comprei os livros da Guerra dos Tronos em Inglês nas suas Deluxe Collectors Edition...e foram mais baratos que os respectivos equivalentes em Português.

- O meu telemóvel está em Inglês. Isto porque os novos Nokia Lumia vêm em Brasileiro. Sim. Leram bem. Brasileiro. Eles não estão em Português. A Nokia, tal como muitas outras empresas (como a HP), não se deu a esse trabalho. Adoptou a ortografia Brasileira para o Português e pronto. Mesmo contrariando o próprio Aborto Ortográfico. A operadora - Vodafone - essa continua a escrever tudo em Português. E que assim continue!

- O meu Office é ainda o 2003 (que se manteve em Português). E continuará a ser por muitos e longos anos, se Deus quiser. Se não quiser, tenho uma máquina de escrever.

- O meu Facebook continua em Português. Aparentemente o Sr. Zuckercoiso não se preocupou muito em alterar isso. O dia em que se preocupar, passa para Inglês e resolve-se o problema. Já os meus "amigos" que usam o Aborto Ortográfico foram todos removidos. Felizmente o número de incidências cifrou-se em 1 pessoa. E nem sequer era MESMO um amigo. Era um "amigo". Daqueles "amigos" de facebook, sabem como é.

- O Google já está em Inglês, bem como o Firefox e o Chrome.

- Também cancelei todos os cartões de fidelidade (Cartão Bertrand, por exemplo) de empresas que aderiram ao Aborto, e cancelei todas as newsletters que não venham em Português correcto. O único cartão de sobrevive é o cartão Fnac, porque já o paguei e ainda lá tenho pontos. De qualquer das formas o cartão acaba no início de Janeiro de 2013. E não será renovado. 


Graças ao Aborto Ortográfico passo 80% do meu dia a ler e escrever em Inglês. Se o Aborto Ortográfico não for revogado, a percentagem passará para 100%. E não julguem que isso me rala.

Tudo tenho feito e tudo continuarei a fazer para tentar travar esta aberração. Mas se no fim da guerra a democracia não vingar, então eu deixo de querer ter relações com este País.
Não somos independentes economicamente. Não somos independentes politicamente. Se até a Língua nos destruírem, pouco me rala a austeridade e a necessidade de salvar o País da bancarrota. O Sr. Passos Coelho e o Sr. Seguro podem ir para o raio que os parta mais os seus "planos para salvar Portugal". Não há Portugal para salvar. Já o disse e repito-o: um País que não tem economia própria, política própria, moeda própria e Língua própria, não é um País.


Se me privarem da minha própria Língua, então preferirei esquecê-la de uma vez por todas. Passo a usar única e exclusivamente o Inglês como língua primária. O mais provável é só ganhar com isso.
Agora uma coisa é certa: a mim nunca me obrigarão a escrever em Acordês, a ler Acordês ou a olhar para o Acordês. Nem que tenha de imigrar para a Nova Zelândia.

quarta-feira, agosto 29, 2012

Uma aldrabona chamada Edviges

Nas fileiras de ignorant...perdão, de Acordistas, há uma que se destaca: Edviges Ferreira.
Os ditos néscios desta senhora há muito que sujam a política nacional. 
E isso poderia nem ser grave. O que não falta por aí é político que faz da verborreia um modo de vida. 
Mas é. É grave. Muito grave. É que esta senhora é a presidente (ou será "presidenta"? Afinal a última "inovação" no Brasileiro é a flexão de género em todos os títulos...) da Associação de Professores Português. 
O que me leva a questionar a competência científica e intelectual dos Professores de Português que dessa Associação fazem parte e que a elegeram.

Numa das suas últimas regurgitações, em entrevista à LUSA, aqui reproduzida em copy/paste pelo jornal "i" (que escreve o título em Português para depois reproduzir o texto em Acordês), Edviges diz a seguinte barbaridade, sobre as aulas de Português:
“podem coexistir manuais com as duas grafias”, cabendo ao professor deixar claro que “já está em vigor uma nova grafia”.

Por outras palavras, o que esta senhora disse foi: "Os professores de Português devem mentir aos alunos, violar a lei, e impor às crianças uma pseudo-ortorgrafia sem qualquer base científica ou técnica".

O Aborto Ortográfico não está em vigor. Quer os Acordistas gostem, quer não. Lá porque está a ser usado no Estado e nas televisões, isso não o torna legal. No Estado e nas televisões também há corrupção, troca de favores, tráfico de influências, etc etc. Não é por isso que essas coisas se tornam legais.

E esta é também a mesma Edviges que disse que se anda "a brincar com os professores, alunos, pais, e toda uma comunidade" em reacção àquela entrevista à TVI24 do Secretário de Estado da inCultura, Francisco José Viegas, onde o mesmo dizia que se podia alterar o Aborto Ortográfico até 2015.

Bem, de facto sim, andam a brincar com professores, alunos, pais, cidadãos em geral. Andam a brincar às democracias. Porque se Portugal fosse MESMO uma democracia, o Aborto Ortográfico, rejeitado por 80% da população, já teria sido revogado.

Mas pior que estas mentiras propagadas por uma mercenária que já ganhou umas centenas de euros à custa de "acções de formação" para "ensinar" o Aborto Ortográfico (Porque é que será que todo o Acordista ou é escritor de livros que ensinam o Acordês, ou escritor de dicionários, ou "formador" de pobres almas sobre as "virtudes" do AO? hmmm), é a atitude dos professores de Português.

Os professores de Português, mesmo não estando de acordo e compreendendo a estupidez que é o Aborto Ortográfico, não fazem nada.
O que é curioso. Quando se trata de serem avaliados fazem greves e mais greves, vão para a rua, barafustam. Quando se trata de darem um contributo para a preservação da Língua Portuguesa e para impedir o erro tremendo que é o Aborto Ortográfico, calam-se. Como possuem livrinhos, que olham como se de Bíblias se tratassem, onde está escolhida a grafia das palavras (mesmo daquelas que possuem dupla/tripla/quádrupla grafia "oficial" segundo o AO) por eles, acomodam-se. Bom...isso se calhar explica o "porquê" de não quererem ser avaliados.
Nem todos os professores de Português têm esta atitude cobarde e comodista, é verdade.
Mas infelizmente nem todos os professores de Português são a professora Maria do Carmo Vieira. 

segunda-feira, agosto 20, 2012

Um Mundo, uma Ortografia...

Este pequeno texto visa reflectir sobre uma comum palermice propagada pelos Acordistas (isto é, aqueles que apoiam o "Acordo" "Ortográfico") e que está visada no meu boneco de perfil.

Não vou entrar em grandes dissertações linguísticas aqui. Primeiro porque não sou linguista e, como tal, não me sinto academicamente qualificado para discorrer sobre o assunto. Segundo porque, sobre isso, já o Professor António Emiliano se pronunciou num artigo da Revista Autor, publicado a 1 de Agosto de 2008 (o texto encontra-se disponível em EMILIANO, ANTÓNIO, Apologia do Desacordo Ortográfico, Babel, 2010, pp.101-110).

Mas vou entrar num processo de raciocínio ao alcance de qualquer pessoa cujos neurónios não estejam mortos e/ou vendidos.

Dizem os Acordistas e outros asnos (entre os quais se encontra o actual Secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas), sobre a irrelevância das alterações na ortografia portuguesa:

"A Ortografia é uma simples convenção. É meramente artificial."

Isto para defenderem que pouco importa que directo se escreva com ou sem "c"; que pouco importa que adopção se escreva com ou sem "p", etc etc ad infinitum. Para eles, o conjunto de letras que forma uma palavra, é irrelevante. Afinal é tudo artificial. Uma pessoa aprende que "direto" se lê "diréto", memoriza isso, e passará a assimilar sempre a imagem do conjunto de letras "d-i-r-e-t-o" à palavra "directo". Pronto. É tudo uma questão de empinanço.
Seguindo esta lógica eu pergunto: Então porque raio há várias ortografias em várias línguas? Se a ortografia é um conjunto de rabiscos convencionados simplesmente para que alguém fale, e à fala subordinado, porque não tem o Mundo um ÚNICO sistema ortográfico?

行动

Os caracteres supra escritos significam "acção" em Chinês. Escolhi o Chinês pelos motivos óbvios: é a língua com o maior número de falantes. Algo que é muito querido aos Acordistas para justificar a subordinação de uma ortografia a outra (no nosso caso, do Português ao Brasileiro).

Quando nós, portugueses, olhamos para os caracteres 行动 eles não nos dizem nada. Porquê? Porque não é o nosso sistema ortográfico. Não faz parte da nossa história ortográfica. Não faz parte da nossa cultura. Não o aprendemos. E nunca ninguém nos mandou memorizar, desde crianças, que 行动 se lê "acção".
A verdade é que, em Chinês, 行动 lê-se "Xíngdòng" e não "acção". Mas isso importa? Segundo a lógica Acordista da irrelevância da tradição e lógica ortográfica, não.
Ora bem, então porque não passa o Mundo inteiro a escrever 行动 sempre que quiser grafar a sua palavra falada "acção"? Um Inglês diria "action" mas escreveria 行动. Um Alemão "aktion" e escreveria também 行动. Um Português "acção" e grafaria 行动.

Se a ortografia é artificial, porque não escreve todo o Mundo da mesma maneira? Até podíamos falar línguas diferentes, mas escreveríamos todos usando o mesmo sistema de representação gráfica das palavras. Isso até permitiria a um Português escrever a um chinês e vise-versa, sem que nenhum soubesse falar a língua do outro e ainda assim conseguir-nos-íamos entender. Bastaria saber escrever segundo a "ortografia mundial", igual para todo o Mundo! Que maravilha! Que moderno!

Pois. Absurdo não é? Só que é exactamente o mesmo princípio usado na defesa Acordista da irrelevância da supressão de consoantes com valor diacrítico. "acção" ou "ação" lê-se tudo da mesma maneira. Lê-se "áção" porque sim e acabou. Ora, por essa lógica, se ensinarem que 行动 se lê "áção", usando o mesmo argumento - "porque sim" - qual é a diferença?

"Ah, mas nós não utilizamos esse sistema de caracteres. Não é essa a nossa ortografia. Isso não é Português". Não é? É tão Português (Europeu) "ação" como "行动".

Pois é...se calhar a ortografia afinal não é assim tão artificial. Afinal não é uma mera convenção. Se calhar a ortografia é um legado histórico que resulta da evolução cultural de um Povo.

Bolas, lá utilizei eu quatro palavras demoníacas para os Acordistas. "legado histórico" e "evolução cultural". Aos Acordistas, peço perdão por isso. É melhor irem banhar-se rapidamente numa das verborreias literárias da Edite Estrela ou do Malaca Casteleiro...não vão os vossos neurónios despertar de repente e deixarem o estado de morte clínica em que se encontram ante o AO90.

segunda-feira, agosto 06, 2012

O Futebol da Ortografia

A questão do Aborto Ortográfico tem gerado um certo clima de mau-estar entre Portugal e Brasil que não existia antes de se terem lembrado de ressuscitar a besta. Brasileiros acusam Portugueses, Portugueses acusam Brasileiros. É um chutar de bola de um lado para o outro do Atlântico, como se de um jogo de futebol - desporto apreciado de forma "unificada" em ambos os Países - se tratasse.
Fui chamado à atenção para este artigo da GLOBO: "As dissonâncias da língua: Oposição ao acordo ortográfico volta à tona em Portugal e cria temores de que a adoção das novas regras não seja unificada" (sic)

Ora bem, há alguns comentários que me apraz fazer (respeitarei a ortografia da notícia sempre que a citar como, aliás, mandam as regras da citação):

1. Quanto ao conteúdo da notícia. Aqui denota-se um facciosismo óbvio, ou não fosse o texto de uma grande empresa brasileira com interesses também em Portugal. 
A forma como todo o processo de imposição do AO está a ser levada a cabo é completamente obliterada. Repete-se simplesmente a lenga-lenga do costume (foi assinado em 1990 por todos os países da CPLP bla bla bla) e pronto. Não há UMA linha que refira os vários pareceres técnicos sobre o AO que, pelo menos em Portugal, foram todos negativos. 
Mas descreve a resistência quase que como fruto da mesma "teimosia lusitana"  que manteve por cá as consoantes com valor diacrítico (cfr. nota explicativa anexa ao AO onde é esta a explicação "científica" para a manutenção das consoantes "mudas".)
Apontam como paladino dessa resistência o Dr. Vasco Graça Moura, porque foi dos poucos homens com poderes numa instituição de interesse público que, até hoje, teve coragem de agir de acordo com aquilo em que acredita (por oposição à atitude dos deputados que agem segundo ordens do partido). 
Ignoraram completamente todo e qualquer aspecto legal relativamente à vigência do AO, à sua aprovação, etc. Sobre isso, zero.
Enfim. Já estamos habituados a este tipo de atitude por parte de quem não tem argumentos científicos para justificar uma posição ou está a agir de má fé.

2.  Diz depois a notícia: "No Brasil, o Ministério da Educação (MEC) informou que está ciente das resistências à entrada em vigor do acordo em Portugal, mas aposta que é possível contorná-las por meio do diálogo. O MEC entende que um eventual recuo português em relação ao acordo seria um fato inédito e um incidente diplomático de razoável proporção, uma vez que Portugal aderiu ao acordo negociado no âmbito da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), formada por oito Estados. " (sic). 
Pois bem. E onde está esse diálogo? Alguém já o viu? Se o virem, avisem! É que o Ministro Nuno Crato deve estar à espera dele no seu gabinete.
Como é óbvio não há vontade nenhuma por parte do Governo do Brasil em dialogar com Portugal. Ou não teria esse mesmo Governo, supostamente, pressionado o anterior Governo português a avançar rapidamente com o AO, o que obedientemente Sócrates fez, ordenando depois que Cavaco Silva se despachasse a promulgar o mesmo. É que aqui joga-se o jogo da influência internacional. 
O Brasil é uma economia em desenvolvimento no presente (sim, porque eu estou certo que o crescimento tão rápido e pouco sustentado do Brasil que se verifica actualmente, qual bolha, rebentará mais cedo ou mais tarde. Mas isso fica para outra altura). Este quer, a toda a força, afirmar-se no Mundo (ambiciona um lugar no Conselho de Segurança da ONU, por exemplo). OK. É uma ambição legítima (como seria a de Portugal, caso tivesse dinheiro para isso). 
Só que o Brasil precisa da influência de Portugal para o conseguir. É uma coisa que custa a engolir a alguns governantes brasileiros, mas o peso de mais de 1000 anos de História de Portugal ainda é superior, na política internacional, aos nem 200 anos do Brasil.
Só assim se entende que o Brasil possa achar que um recuo relativamente a um AO - que impõe, de forma disfarçada, a um país com mais de 1000 anos, uma reforma ortográfica baseada nas regras que aquele país, para si próprio, na sua caminhada história individual, criou em 1943 - pode consubstanciar um incidente diplomático de razoável proporção.
E mais. Como ousa o MEC afirmar tal coisa quando a raiz da divergência ortográfica entre Portugal e Brasil foi criada por este último? O pecado original ortográfico adveio do Brasil. Foi o Brasil que, mal entrou no século XX, decidiu que estava na altura de pôr fim à ortografia vigente de então - aquela de raiz etimológica que vigorava também em Portugal - e criar uma nova ortografia mais ajustada à evolução que LÁ se havia verificado na Língua.
Sim. Mas não só. Se o Brasil se tivesse limitado a fazer isso, pronto. Tudo bem. Nós por cá também fizemos uma reforma ortográfica própria em 1911 com vista à legislação de uma regra ortográfica única e "simplificada" para ser mais facilmente entendida por todos aqueles que iam começar a ser alfabetizados então e que eram uma faixa considerável da população.
Foi só nos anos 30 e 40 que surgiu a ideia peregrina de um "Acordo Ortográfico". Este veio materializar-se na Convenção Ortográfica Luso-Brasileira de 1945 (ou "Acordo Ortográfico de 1945"). O AO45 é aquele que hoje vigora em Portugal. Este texto que estão a ler está redigido segundo as regras desse Acordo Luso-Brasileiro.
Então mas se está, como é que ainda há divergência ortográfica? Lá está. Há porque O BRASIL, após ter adoptado o AO45 decidiu "desadoptá-lo".
Oi?
Pois é. Aquilo que o MEC teme tanto que possa acontecer por parte de Portugal com o seu AO90 foi precisamente aquilo que o Brasil fez com o AO45. O Brasil assinou um Tratado Internacional e depois rasgou-o de forma unilateral. Alguém morreu por isso? Não. Ninguém. Houve alguma "crise diplomática de razoáveis proporções"? Não. Se Portugal "desadoptar" o AO90 só estará a fazer o mesmo que o Brasil com o AO45: quando viu que este não trazia benefício nenhum à Língua, recuou.
Nós cá continuámos a entender lindamente o que os Brasileiros escrevem, tal como eles entendem o que nós escrevemos. Com a excepção daquelas palavras que são diferentes em ambos os países. E que, vejam lá bem!, vão continuar a ser (sendo que ainda haverá NOVAS palavras diferentes graças a este "Acordo Unificador"). Sim, porque o AO90 só "unificaria" a ortografia. Não há "unificação" da fonética. Nem da semântica. Que no fundo é aquilo que verdadeiramente separa o Português do "Brasileiro".
Os Portugueses estão-se nas tintas para a forma como os Brasileiros usam o Português, tal como os Brasileiros se devem estar nas tintas para como nós o usamos. A Língua é de todos. Nós deixámos a nossa Língua nos territórios do Império. A partir do momento em que o Império ruiu, os povos que lá ficaram tornaram-se livres de fazer dela o que bem entendem. Não têm é o direito de tentar impor o resultado dessa transformação aos outros povos que partilham a mesma matriz linguística. Seria o mesmo que os franceses agora irem exigir aos italianos que corrigissem a sua língua e ortografia, só porque ambas se basearam no Latim deixado pelo Império Romano.

Puxa o artigo depois o argumento da CPLP. O AO90, dizem, foi negociado "no âmbito da CPLP". Tretas. Toda a gente sabe que não foi. A HISTÓRIA mostra-nos que não foi. 
O AO90 foi inventado por umas bestas gananciosas da Academia de Ciências de Portugal que queriam vender dicionários e foi proposto ao Brasil que, claro, o aceitou dado o conteúdo de tal reforma. Se o AO90 fosse para fazer o Brasil cumprir o AO45 este nunca teria sido aceite pelos líderes de Vera Cruz. A "CPLP" no AO90 significa "Portugal e Brasil". Todos sabem que os Países Africanos não foram tidos nem achados no assunto. Nem Macau. Nem Timor-Leste que, na altura, nem a independência tinha conseguido ainda. 
Nos Países da CPLP, só Portugal e Brasil é que andam a brincar às reformas ortográficas. Nenhum dos outros países "ratificantes" mexeu ainda UM dedo para aplicar esta disparatada reforma. E os países que não ratificaram - Angola e Moçambique - já disseram que primeiro é preciso estudar o impacto do mesmo e ter em consideração as especificidades linguísticas e ortográficas dos respectivos países. Ou seja, disseram que o AO não lhes serve.

3. Os comentários do Secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, são reproduzidos, mostrando claramente a inépcia do mesmo para o cargo. Não é possível confundir "Acordo Ortográfico" Com "Vocabulário Ortográfico Comum". A única coisa que há se semelhante entre ambos é a existência da palavra "ortográfico". O senhor meteu a pata na poça e quando foi repreendido por sugerir que se poderia "corrigir o AO" (algo que, juridicamente nem é possível porque o texto do Tratado é estanque desde 1990) veio tentar dar o dito por não dito. É inapto para as funções que ocupa. E é cobarde. Não sei qual destes aspectos será pior.

4. Escreve-se depois isto "— A língua portuguesa tem numerosas palavras com diferença de timbre, mas nem por isso os portugueses têm um artifício gráfico para mostrar essa diferença. É um argumento furado — diz Bechara."
É...só que os especialistas brasileiros percebem TANTO de fonética portuguesa como eu de física quântica. Senão veja-se o que este reputado Professor brasileiro - Ernani Pimentel - diz sobre a forma como em Portugal se pronunciam as palavras "caracteres", "dicção" e "corrupto".

5. Por fim uma palavrinha relativa aos comentários que várias pessoas deixaram na notícia. Alguns deles são verdadeiramente PAVOROSOS. Veja-se por exemplo o comentário deste "tuga moderninho":
Por favor, não confundam uma minoria de xenófobos e ignorantes em Portugal com "resistência" generalizada à aplicação do AO em Portugal.
(...)
Só para exemplificar mais, existe um punhado taralhocos que está a tentar há mais de dois anos juntar 35 mil assinaturas para pedir a revogação do AO em Portugal. Ainda não conseguiram, e nem vão conseguir!

Por favor, não amplifiquem no Brasil aquilo que aqui em Portugal já ninguém quer saber. Nós temos os nossos encardidos e vcs teem os vossos encardidos, Mas, por favor, não digam que os encardidos são a voz de um povo. Não são.


Abraço fraterno e em Português desde Lisboa para todos os brasileiros.

Esta triste alminha chega ao ponto de dizer aos brasileiros que não há rejeição nenhuma do AO por parte dos portugueses e que só "uma minoria de xenófobos e ignorantes" é que resiste. São os "encardidos".
É portanto "xenófobo e ignorante" todo e qualquer especialista que alguma vez emitiu um parecer sobre o AO (porque estes pareceres técnicos foram TODOS contra a adopção do AO)
É "xenófobo e ignorante" todo e qualquer autor que recuse aplicar o AO nos seus livros porque compreende as suas implicações na Língua Portuguesa, já que esta é, assim só por acaso, a sua ferramenta de trabalho. 
É "xenófobo e ignorante" qualquer português comum que percebe a estupidez que é o AO e as falsas premissas em que assenta ("unificação" de uma Língua que não é possível unificar, primado da fonética quando a fonética não é sequer homogénea dentro de um País com 10 milhões de habitantes quanto mais num com 200 milhões como o Brasil, etc.)

Enfim. Pelos vistos somos um País de "xenófobos e ignorantes". Somos todos uns "encardidos".
 Em contrapartida os responsáveis políticos que levam este AO avante (e que, assim só por acaso, também levaram o País à bancarrota) são, por maioria de razão, almas iluminadas. Autênticos seres impolutos.

Ora bem, onde é que eu assino para ser Governado por um homem das cavernas? 
É que com "iluminados impolutos" destes, prefiro ser governado por gente do paleolítico.
Os Acordistas estão a tentar transformar a questão do Aborto Ortográfico numa guerra entre Portugal e Brasil. Um jogo de futebol para ver quem tem a Língua "mais forte". Só que ainda não perceberam que isto não tem nada que ver com a ortografia. Os Portugueses não criticam o Aborto Ortográfico SÓ porque ele impõe a norma brasileira. Criticam porque essa imposição é contra-natura, cientificamente injustificada e socialmente patética. Tal como os Brasileiros criticam o AO pelos mesmos motivos.
Os Portugueses que querem preservar a sua Língua estão ao lado dos Brasileiros que querem o mesmo. Não há um jogo "Portugueses Contra Brasileiros". O que na verdade existe é um jogo entre a racionalidade ortográfica Luso-Brasileira e a Ganância Editorial e Empresarial Luso-Brasileira.

Ah. E quanto aos "taralhocos" da ILCAO que "não conseguiram nem vão conseguir" reunir as assinaturas (a criatura supra citada julgará, certamente, que as assinaturas para uma Iniciativa Legislativa se reúnem como nas petições online - com um simples click. Se assim fosse a ILCAO já tinha tido, provavelmente, um milhão de assinaturas)...e que tal provar a este ignóbil ser, que o "taralhoco" é ele?

Se ainda não assinou a Iniciativa Legislativa de Cidadãos basta ir ao site da ILCAO e optar por uma das duas vias: 1- imprimir o formulário adequado, assinar e enviar pelo correio; ou 2- imprimir o formulário adequado, assinar, digitalizar (vulgo "fazer scan"), e enviar por correio electrónico. Só estes dois métodos são possíveis porque a assinatura tem de ser feita no papel. A forma de envio do papel assinado é que pode ser feita por uma de duas vias.

sexta-feira, julho 13, 2012

Tu, cego, não verás.

Dizem que o pior cego é aquele que não quer ver.
Juntamente com todos os aspectos científicos que foram despudoradamente ignorados pelos "iluminados" que decidiram criar o "Aborto" Ortográfico, também os aspectos sociais do mesmo foram descuidados.
O Professor António Emiliano chamou já várias vezes à atenção para a inexistência de um "estudo de impacto ambiental" no que respeita ao AO. 
E se mais provas fossem precisas, de que tal estudo sobre a forma como o AO afecta os portugueses nunca foi feito, basta pensar na forma blasé com que o Estado acha que se pode implementar a Besta.
Para os ilustres "pensantes" que nos (des)governam, basta emitir uma Resolução para que a coisa exista (ver o meu texto "Portugal, o País-Zombie" sobre a ilegalidade desse acto). As editoras trataram de começar a editar novos livros escolares (olha que rico negócio!). As televisões mudam meia-dúzia de gráficos. E assim vão eles, "cantando e rindo", como dizia a letra.

E para variar houve um grupo de portugueses que foram tratados como gente "de segunda". Os invisuais.
Pois é. Como sempre, neste País de "doutores", mais uma vez aqueles que requeriam do Estado especial consideração foram, mais uma vez, esquecidos.
É que na ânsia de "acordizar" o Português e transformá-lo nessa novilíngua chamada "Acordês", os "iluminados" não ponderaram, em momento algum, de que forma esse homicídio vai afectar a escrita portuguesa em braille?
Os poucos livros que há em braille ficam, claro, obsoletos. As poucas placas informativas que existem em braille ficam também elas, caducas ante o Acordês. E o Estado não gastará um tostão para as renovar, como é óbvio, até porque não tem dinheiro para isso.
Mas e a escrita em si?
Bom, em boa verdade, nem o texto do Aborto nem a sua inenarrável Nota Explicativa estão disponíveis em braille. Os invisuais estão portanto numa ilha, isolados do resto do País Linguístico. 
Por um lado é sempre doloroso não poder ver o Mundo que os rodeia. 
Por outro foram e serão poupados a ter de assistir ao que se está a fazer com a Língua Portuguesa.

Dizem que o pior cego é aquele que não quer ver.
Mas até um cego conseguiria ver o absurdo que o AO é. Ao contrário dos "visionários" que o criaram.

quinta-feira, julho 12, 2012

Portugal, o País-Zombie

(O presente texto foi publicado originalmente a 8 de Junho de 2012)

Neste pequeno rectângulo à beira-mar plantado, houve em tempos um País chamado "Portugal".
"Portugal", paz à sua alma, faleceu no início deste ano, quando perdeu o seu último símbolo de autonomia: a Língua Portuguesa.
Desde o início de 2012 que Governo e seus tutelados e a generalidade dos órgãos de comunicação social (intimidados, muitos deles, pelo primeiro) adoptaram aquilo a que chamam "Novo Acordo" Ortográfico.
Ele não está em vigor, nem cá nem no plano internacional, não é exequível, nem tampouco aceitável.
No plano internacional falta que haja ratificação de Angola e que seja elaborado o "Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa" que o próprio "Acordo" exige no seu art.2º como condição sine qua non para vigorar. No plano nacional, só existe uma Resolução do Parlamento ratificando o 2º Protocolo modificativo (instrumentos a todos os níveis ilegal no plano internacional por violação da Convenção de Viena e por consequência da CRP) e uma Resolução do Conselho de Ministros do Governo daquele criminoso que, assim que pôde, fugiu para Paris, que ordena que se aplique aos órgãos do Estado, baseando a "nova" ortografia num corrector informático fabricado por encomenda directa. (Não vou entrar agora aqui no quão estranho e fedorento isto é, mas creio que o bafo da corrupção se sente facilmente aqui).
Uma resolução, no plano jurídico, é um conselho. Uma recomendação. Em Portugal a Constituição só considera actos legislativos as Leis, os Decretos-Lei e os Decretos Legislativos Regionais (art.112º CRP). Ou seja, uma Resolução não é um acto legislativo. Como tal não tem poder para revogar outros actos legislativos, nomeadamente aqueles que fixaram a ortografia em Portugal (Decreto 35 228 de 8 de Dezembro de 1945 com as alterações do Decreto-Lei 32/73 de 6 de Fevereiro).

O "Acordo" Ortográfico (que doravante denominarei de "Aborto" Ortográfico, na medida em que o mesmo constitui uma autêntica interrupção forçada de um processo evolutivo natural) não está, portanto, legalmente em vigor. No entanto é vê-lo aí, qual mosca varejeira, colocando as suas patas sujas em cima de toda a palavra escrita e infectando-a com o "vírus da desortografia", este sim, fabricado em laboratório por cientistas loucos com demasiado tempo nas mãos e pouco dinheiro nos bolsos.

As televisões foram, claro, adoptá-lo. Há lá coisa melhor do que tentar vender aos Brasileiros que, agora que escrevem "direto", "atual" e "espetáculo", podem também transmitir no Brasil?
Se os Brasileiros não perceberem depois o que é um "autoclismo", um "autocarro", um "talho", uma "fotocópia", uma "Imperial" ou uma "bica", uma "chávena", um "agrafador", uma "carcaça" etc isso é lá com eles. Que interessa explicar-lhes que "meter-se na bicha" não é praticar um acto sexual com uma pessoa do mesmo sexo, ou que uma "rapariga" é um Ser do sexo feminino menor de idade e não uma fornecedora de prazeres nocturnos, ou que "de fato"para nós é "de peça de roupa usada pelos homens no emprego ou em ocasiões especiais".

As Editoras dividem-se em duas: as gananciosas - como a LeYa e a Porto Editora - a quem, tendo o monopólio dos livros escolares e tendo presenças de peso no Brasil, lhes convém que passem a vida a ter de alterar os manuais escolares; e as estúpidas - como a Saída de Emergência - que, como pequenas editoras, em vez de respeitarem os seus leitores, decidiram enfiar-lhes o Aborto Ortográfico pela goela, para agradar às grandes editoras.


Assiste-se ao maior e mais descarado assalto à Língua Portuguesa, já de si tão mal tratada pelos políticos e pelos pivôs de telejornal, que há memória num Estado Democrático. Ninguém perguntou nada àqueles que usam a Língua como profissão (e quando perguntaram, os pareceres foram devidamente ocultados e ignorados, por não dizerem o que queriam) e muito menos ao Povo que a controla.
E o mais grave é que os Portugueses parecem estar-se nas tintas para o assunto. Que importa? Eles "vão continuar a escrever como sempre escreveram". Não compreendem que isto é maior que eles. Que a rejeição do AO deve ser sonora e visível. Que não é porque "eles continuam a escrever como sempre" que a Coisa vai ser destruída. Para eles a Língua Portuguesa não tem valor.

Ah, mas esperem só até jogar a Selecção (ou "Seleção" como lhe querem chamar) de Futebol! Começa o Campeonato Europeu de futebol e lá vão os mesmos labregos para quem a Língua Portuguesa não interessa, a correr, colocar bandeirinhas na janela e gritar pelos jogadores que vão estar lá longe, num Hotel de luxo (o mais luxuoso, aliás!) com todas as suas roupas de marca e os seus dialectos distorcidos pela terrível mixórdia de mau português com Castelhano/Inglês/Alemão/Língua do País onde esse jogador está a jogar.

Para os Portugueses o que interessa é o raio do Futebol. Nunca fomos Campeões de nada. Não o vamos ser de certeza. Mas que interessa ao Tuga isso? Quando joga a Selecção é "Portugal! Portugal! Portugal!". Assim que a Selecção é corrida dos Campeonatos e os jogadores regressam aos ordenados obscenos nos Países onde estão a jogar, "Portugal! Portugal! Portugal!" volta para o baú no sótão.

Portugal é neste momento um País-Zombie.
Sem moeda própria, sem autonomia política, sem autonomia financeira e sem Língua própria, está morto durante 365 dias por ano, só despertando dos mortos de 4 em 4 anos quando a Selecção se apura ou para um Campeonato Europeu ou para um Mundial de Futebol.



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Se é daqueles Portugueses que repudia a destruição da Língua Portuguesa pelo Aborto Ortográfico, assine a Iniciativa Legislativa de Cidadãos! Clique no símbolo à direita para saber mais.

Nova Vida ao blog

Quando comecei este blog era um jovem recém-admitido à Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.
Por motivos vários, nunca nele escrevi o que pretendia nem lhe dei o âmbito para o qual o tinha criado.
Agora, 6 anos volvidos sobre a sua fundação, já fora da Faculdade de Direito há uns anos, decido refundar o blog.
Das cinzas de "Pensar Portugal" nasce assim "Vais mal, Portugal". Porque me parece um título bem mais condizente com o conteúdo dos textos que aqui pretendo publicar. Todos serão de cariz político-social. E muitos, talvez a maioria, versará sobre esse atentado que está a ser cometido contra a Língua Portuguesa e que dá pelo nome de "Novo Acordo Ortográfico".
Se este blog vai incomodar? Possivelmente não. A menos que aqueles que o lerem sejam os visados pelos textos. Nesse caso, sim, é bem provável que incomodem. Ou que, vá, no mínimo, chateiem.

Nota: Os três textos do antigo blog vão permanecer porque continuo a subscrever o que neles redigi.