quinta-feira, outubro 05, 2006

Reflexões sobre o 5 de Outubro

Na data em que se comemora o aniversário da implantação da República, parece-me pertinente que sobre ela façamos algumas reflexões. É Portugal um país melhor sem a Monarquia? Fará sentido o seu regresso? Presidente e Assembleia da República: sucessos ou fracassos? E a relação da República com a Madre Igreja?
Serão estes alguns dos temas que abordarei em linhas muito gerais.

I
Portugal e a Monarquia: um regresso desejado?

Quando questionados sobre se desejamos o regresso da Monarquia, a maioria dos portugueses diz que tal regresso é desnecessário. A afirmação poderia ser levada como vinculativa, não fossem os portugueses um povo de paixões. Por outras palavras, ao português é-lhe indiferente se o país é uma República ou uma Monarquia. Ao português comum interessa mais o seu salário ao fim do mês e os jogos da selecção nacional.
Mas analisemos então esta questão da importância ou não da Monarquia.
Historicamente, Portugal foi um país muito melhor nos primeiros 100 anos da Monarquia do que nestes primeiros 100 anos de República. Contudo os últimos 100 anos de Monarquia foram piores do que os primeiros 100 de República. Esta dúvida de afinal qual é o melhor regime quanto a mim não se deve ver do prisma matemático.
A meu ver a questão não está em quem governa o país - Rei ou Presidente - mas sim na maneira como o país é governado. Nenhuma das três Repúblicas que já governaram e governam Portugal conseguiram prestigiar o país da mesma forma como o país foi prestigiado durante os anos dos descobrimentos ou do Império. Aqui é um ponto a favor da Monarquia. Mas veja o leitor que a Monarquia teve mais tempo para alcançar esse prestígio do que a República. Será que Portugal não beneficiaria com o regresso da Monarquia? Uma monarquia parlamentar nos moldes da Monarquia Inglesa talvez resolvesse alguns dos problemas, nomeadamente um que considero fundamental para o prestígio da Nação: a sua representação além-fronteiras. Pessoalmente não creio que um Presidente que de 5 em 5 anos vê o seu lugar em risco possa prestigiar a Nação. O Rei nesse aspecto representa muito mais as tradições, os valores e a soberania de Portugal. São um ícone da Nação e Portugal está a precisar de ícones. É por isso que a meu ver a República falhou e falhou redondamente, pois não soube prestigiar a Pátria de Camões e de tantos outros heróis lusos.
Concluímos assim que a Monarquia seria hoje mais desejável no sentido de restituir o prestigio a Portugal, uma vez que nas outras áreas poucas diferenças se notariam entre a Assembleia Republicana e a Assembleia Monárquica.

II
O Presidente e a Assembleia da República

No que concerne ao papel do Presidente da República, já o dissemos, tem sido a meu ver um fracasso. Com muito poucos poderes, o Presidente de Portugal está remetido para um quadro de segundo plano, mero bibelô da República que supostamente deve representar Portugal no estrangeiro.
Não me parece que tenha sido até hoje um factor de credibilização. Um Estado que se sujeita a que um indivíduo o represente mas cujo lugar treme de 5 em 5 anos não nos parece uma boa estratégia de demonstração de solidez ou soberania de um país. Que os governos da Nação mudem muito bem, mas parece-me essencial que em Portugal exista alguém que se mantenha fixo como fio condutor da Nação e das suas políticas e tradições, da sua soberania.
Ao que à Assembleia diz respeito, seja na Monarquia ou na República, parece-me um órgão obsoleto a precisar no mínimo de óleo senão mesmo de uma substituição. O excessivo número de deputados que em muitos casos nada fazem em prol da Nação impede os mais qualificados de debaterem seriamente uns com os outros. A incompetência de muitos parlamentares leva por consequência à criação de Leis negativas, feridas à nascença pela espada da incompetência daqueles que as criaram. E não há nada mais mortal para uma Nação do que leis mal feitas. Também a Assembleia carece portanto de uma limpeza e arrumação rápidas a bem da própria Nação.

III
A República e a Madre Igreja

É mais que sabido que a relação das três Repúblicas com a Igreja tem sido uma relação de amor/ódio.
A 1ª República foi abertamente anti-clerical senão mesmo anti-cristã. As acções por ela levadas a cabo contra a Igreja de Roma superaram em muito a guerra do Marquês de Pombal com a Companhia de Jesus. Não devemos por isso considerar que seja a 1ª República motivo de orgulho para qualquer cristão.
Com o advento do Estado Novo e da 2ª República, a Igreja viu serem-lhe devolvidos poderes que eram seus por direito. O Estado no entanto, e cumpre recordá-lo, manteve-se laico. A educação voltou em muitos casos a ser ministrada pela Igreja e esta teve ainda um papel importante em acções de solidariedade e transmissão da cultura lusa às províncias do ultramar.
Já na actual 3ª República voltamos a sentir os ventos do anti-cristianismo que sopram das sepulturas da 1ª República e isso é no mínimo lamentável. A 3ª República, primeiro atacou a igreja em geral acusando-a de ser reaccionária e saudosista do anterior regime. Depois despromoveu a disciplina de religião e moral a mera "cadeira opcional". Em seguida a 3ª República atacou os crucifixos que algumas escolas públicas optavam por ter nas aulas e agora prepara-se para "limpar" o País das últimas raízes que o ligam ao cristianismo, expulsando a Igreja das cerimónias de Estado colocando-a ao lado das seitas minoritárias como o islamismo e o judaísmo.
Seria bom que algo travasse estes ventos de loucura mefistofélica que varre os homens de estado da 3ª República a bem da própria República porque o povo português é e sempre foi cristão e certamente não vai gostar de se ver ostracizado no seu próprio país.

Em suma, destes três tópicos que abordei superficialmente, não me parece que algum deles dê motivos para celebrar a República. Antes pelo contrário. Só dá motivos para que rezemos para que a República actual não aniquile de uma vez a Nação soberana milenar à beira-mar plantada à qual os nossos avós deram o nome de Portugal.

David Baptista Silva
Lisboa, 5 de Outubro de 2006

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